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Terceira geração à frente da fazenda que, hoje, é conhecida pela produção de uvas e vinhos, Gabriela Pötter celebra os 20 anos da implementação dos vinhedos da Guatambu. A vinícola de Dom Pedrito, conhecida por ser a primeira do Brasil a fazer uso de 100% de energia solar, celebra mais um reconhecimento. Neste ano, o Guatambu Nature Blanc de Blancs, um espumante feito totalmente com a variedade Chardonnay, foi eleito o melhor do Brasil pelo Descorchados 2023, guia de vinhos coordenado por Patricio Tapia que traz avaliações de rótulos da Argentina, Chile, Uruguai e Brasil.

A fazenda, que começou a operar por volta de 1948 com o avô de Gabriela, era focada na pecuária de corte e cultivo de grãos, como arroz, soja e milho, produções que ainda seguem e correspondem a 75% das atividades do negócio hoje. Mas foi Gabriela, em 2003, a responsável por agregar os vinhedos à propriedade. Durante a sua formação em Agronomia na Ufrgs, ouviu de diversos especialistas sobre as qualidades da Campanha Gaúcha para o plantio de uvas. “Foi uma diversificação considerada algo bem inovador. Aqui em Dom Pedrito, só mais dois produtores tinham produção de uva. Mas, na verdade, tinha pouco por uma questão cultural. Trouxe essa ideia e implementei esse novo negócio na Guatambu. A ideia era produzir uma uva de qualidade e vender para outras vinícolas. Iniciamos com meio hectare e fomos aumentando aos poucos o tamanho dos vinhedos”, lembra a enóloga sobre o início do plantio, que hoje corresponde a 20 hectares.

Com o bom desempenho das uvas produzidas na propriedade, surgiu o insight de expandir o negócio também para a produção dos vinhos e, posteriormente, para a própria vinícola. “A Empraba Uva e Vinho estava pesquisando o potencial da região e nos falavam muito que era o equilíbrio perfeito nas características dela, que era açúcar, acidez”, lembra. Assim, em 2009, surgiu o primeiro rótulo da marca, o Rastro do Pampa cabernet sauvignon. “O vinho foi um sucesso, ganhou todos os concursos que participou, sendo um muito importante na Itália. Foi assim que meu pai se motivou muito e decidimos construir a vinícola”, conta Gabriela sobre o espaço, que completa 10 anos de operação em 2023.

Hoje, a produção da Guatambu é de 140 mil garrafas por ano, todas feitas inteiramente em Dom Pedrito, de onde parte também a logística de distribuição. A produção representa 25% da receita da fazenda, no entanto, ocupa apenas 2,5% da área. “As outras atividades ocupam a maior parte. Sempre acreditamos que é melhor ter essa diversificação agrícola, que traz benefícios para o próprio campo e também uma estabilidade econômica maior”, avalia.

Os anos de pandemia, percebe Gabriela, foram positivos para a produção nacional de vinhos, já que o público passou a consumir mais. Dados de 2022 da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), mostram que, hoje, o consumo per capita de vinhos no Brasil é de 2,4 litros. De 2020 para 2022, a vinícola de Dom Pedrito cresceu 60% a demanda e produção. “Durante a pandemia, conseguimos atingir novos clientes e o consumo de vinhos no Brasil aumentou. Um dado da Uvibra mostra que, antes, era 1,5 litro por ano por pessoa. E vinícolas como a Guatambu, que estavam trabalhando com excelência na qualidade das uvas e dos vinhos, conquistaram esse consumidor, mesmo que seja injusta a concorrência com os vinhos importados da Argentina. O governo não muda nada de impostos; 45% do valor na nota é de impostos, uma fatia muito grande. E o vinho é taxado praticamente como se fosse um cigarro”, pondera Gabriela destacando que, apesar dos números que apontam o crescimento do negócio, o foco é se manter neste porte. “A nossa ideia nunca é ser de grande porte. A ideia é ser uma vinícola com pequenos lotes, garrafas numeradas, para ser um produto mais exclusivo”, garante.

Celebrando 20 anos à frente dos vinhedos da propriedade, Gabriela avalia de forma positiva sua trajetória, afirmando que a maior realização enquanto empreendedora é ter impactado a região. “Me sinto muito realizada, muito mais do que imaginava quando plantei o primeiro hectare. Ao mesmo tempo, sinto que cumpri minha missão de ajudar a desenvolver a nossa região, mostrar outros caminhos, com mais diversificação, conseguir oferecer um enoturismo de excelência”, orgulha-se a empreendedora, que pontua, também, as dificuldades de ser uma mulher à frente do negócio. “Acredito que para seguirmos conquistando prêmios, crescimento, tenho que sempre buscar o equilíbrio entre o meu bem-estar, família e o trabalho. Acredito que o ponto X para a mulher conseguir crescer no trabalho é tentar conciliar e manter o equilíbrio, o que é muito mais difícil para as mulheres que para os homens”, ressalta.

Para o futuro, além de uma ampliação já em curso no espaço da vinícola, Gabriela projeta seguir conquistando bons números para o negócio, além de desbravar novas frentes. “Espero seguir identificando em uvas algum potencial diferente para conseguir produzir novos rótulos inovadores. A Guatambu sempre teve essa veia mais inovadora. Desejo sempre aperfeiçoar, inclusive, uma das metas é, no vinhedo, cada vez utilizarmos menos produtos químicos. Temos um hectare de vinhedo orgânico, então quero seguir me dedicando para isso, quem sabe, produzir um rótulo totalmente orgânico”, deseja.

Por: Isadora Jacoby | Jornal do Comércio

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