Dentro da pluralidade que compõe a natureza humana, os fatores neurológicos, principalmente os que estão ligados aos sentidos, sempre proporcionaram experiências inesquecíveis ao longo da formação de nossas memórias afetivas. Quem nunca sentiu um determinado aroma e, imediatamente, associou a algo ou alguém? Como a flor de laranjeira que exalava no pátio dos avós ou amoras doces sendo devoradas na sombra da árvore, ainda na infância… cada um desses episódios recorrentes, criam uma espécie de “pasta de arquivos” em nossos cérebros, a qual carregamos para sempre, pois, toda a vez que formos submetidos à experiências sensoriais, essas informações serão lançadas, rapidamente, e, logo, reconheceremos estes aromas.

No mundo vitivinícola, estes acontecimentos sensoriais, são o alicerce dos profissionais da enologia. Aromas e sabores andam de mãos dadas nessa via de mão única, levando-os as mais diversas tomadas de decisões, já, que, é a partir, também, do perfil sensorial de um determinado vinho, que este será destinado a uma respectiva linha de comercialização. Porém, estas experiências sensoriais, não são unicamente direcionadas para tais profissionais, quaisquer pessoas podem tê-las e deliciarem-se nessa melodia líquida que aquece a alma.

Pensando em proporcionar este mergulho na imensidão sensorial que uma simples garrafa pode conter, a Vinícola Guatambu, situada no extremo Sul do Brasil, criou uma Galeria de Aromas, onde, todos os visitantes que participam do evento “Dia Épico”, poderão apreciá-los. Estas notas aromáticas, como também podemos determiná-los, são provenientes de compostos químicos, os quais são voláteis e surgem por diversas reações que ocorrem desde o campo até o engarrafamento.

Para classificarmos a ordem destas notas sensoriais, monta-se a seguinte tríade de aromas: primários, secundários e terciários. Quanto aos primários, estes são formados por notas frutadas e florais, que são oriundas da própria cultivar e por influência do terroir da região em que a casta está plantada, a exemplo disso, temos a linha Luar do Pampa, que exala a sua delicadeza e refrescância aromática. Quando secundários, estes se formam nas etapas fermentativas, onde as descrições lácteas, como manteiga e iogurte, protagonizam o cenário. Neste caso, exemplificamos a linha de espumantes, como o Brut Reserva e o Isadora Nature. Por último, temos os terciários, provenientes da passagem em barricas e envelhecimento na garrafa. Estas notas são complexas, potentes e expressam a robustez dos grandes tintos da Campanha, como a linha Lendas do Pampa e o opulente Épico, o personagem principal neste local encantador.

Então, vocês, que gostam de resgatarem as memórias afetivas que foram construídas e armazenadas durante o tempo, não podem perder esta experiência que a Campanha Gaúcha tem a oferecer. Após essa prática sensorial na vinícola, ainda é possível desfrutar de uma vista que arranca suspiros, pois a vegetação rasteira e o relevo com pequenas ondulações, chamadas coxilhas, exalam seus aromas verdes e abraçam os corações de quem passa por aqui. Este, por tanto, é um convite para que vocês encilhem os sonhos na garupa do vento, e venham desbravar a Fronteira Sul do Brasil.

Enólogo: Jean Alves